de Arnaldo Jabor

sábado, 24 de setembro de 2011


Crônica do amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem,

caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes
teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. 

O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo,
por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque 
ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro
lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,

pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de

cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela 
deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você
gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina 
Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês
combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir
que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do 
que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar 
com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, 
ele veste o primeiro trapo que encontra no armário.
Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre 
duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação
para príncipe encantado e ainda assim você não 
consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, 
você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca,
adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim você é inteligente. Lê livros, 

revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen 
e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia 
romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num 
comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no 
lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador 
e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e
adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que
está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não
fosse um sentimento, mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.

Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas,

bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da 

sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais 
eficaz de merecer.
É a contingência maior de quem precisa.
 



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